2010



“A casa da saudade chama-se memória:
é uma cabana pequenina a um canto do coração."
(Coelho Neto)

Apresentação:


      Tive a honra de ler de um fantástico filosofo uma das mais geniais frases: “Saudade é amor na ausência”. Não há quem não deixe os olhos debruçados na janela da saudade quando tomado por boas lembranças... E não é preciso estar diante da velhice do corpo para admirar esta beatitude da alma... Todos nós que amamos sentimos no peito um aperto àqueles que por um motivo teve de deixar-nos por momentos breves ou para sempre no cais da saudade... A saudade é uma oração em preces à pessoa amada... A poetisa de olhos tristes – tão lindos! A atriz de sorriso meigo – simples! A morena perfumada, que mesmo de sandálias e de cabelos despenteados acho linda! Todas elas com seu jeitinho impar de conquistar os versos suspirados deste coração que escolheu na vida o ofício de compor poemas...





Dedicatória:



Dedico este livro as pessoas que me conforta a alma
na simples lembrança...
e que me traz saudade ao coração.






Saudades e lembranças


Já não quero mais lembrar você
Porque lembrar você é morrer duas vezes...
Além de sentir pena de ti que morres sem mim
Sinto de mim pena porque morro sem você...

E tantas vidas já se foram...
E tantas vezes já morri...
Tantas vezes a tive em meus braços
Ao hálito último - a morrer...

Morro e sempre renasço,
Sempre me renovo contigo
Porque há necessidade em mim em viver...
Porque há necessidade que viva...

O amor que não pode ser, é.
E é uma realidade que contemplo
Sabendo que contemplas de um olhar igual
Ao meu olhar cheio de saudades e lembranças...

Se tu quiseres


Quererei viver contigo sob o teto mesmo
À mesma mesa sentar-me contigo
E contigo na mesma cama deitar-me...

Quererei sorrir como tu sorris ao espelho
Um daqueles sorrisos dramaturgos
Quando teu pensar, minha querida,
É o pensar em mim... Apaixonada!...

Quererei te abraçar a mão a mão minha
E levar-me contigo por ai... Pela vida!
Essa grande jornada!...
“sinfonia inacabada...”

Quererei querida... Mas se tu quiseres!

Se quiser ir à Paris


Se quiser vir comigo, vem agora
E vamos galgar nossa história numa estrada simples... – e feliz!
Vamos contemplar flores sem se preocupar com os dias...

Tudo proverá o amor!

Mas oh, não espere de mim rei pra ser rainha!
Talvez me torne diferente do que sou agora
E te queira por meretriz e não por senhora!

Se quiser ir à Paris, vem comigo à realidade!

Meu bem, Paris é um sonho, o amor é real!

Se vier comigo


Se vier comigo deixa o trigo
Que o pão lhe trago... – confia em mim –
Deixa teu braço laçar meu braço;
Teu passo ao meu passo...
E, se sentir cansaço
Verás que valera a pena
Tantos anos neste compasso.

A parte feminina que me completa


Se mesmo vier deve ser simples como as flores
Controlar teu ego de possuir coisas
Pois, adianto-te, não me elevarei a certa altura...

Os meus sonhos são singulares – nada absurdos–
Meus passos são calmos, medidos
Sei por onde corre as águas do meu rio...

Tem de ser serena e compreensível
Se quiseres o poema mais doce;
Ver além das coisas, a alma delas.

Pois, quero uma mulher e não um objeto
Não desfrutá-la; quero amá-la!
Cumplicimente andarmos de mãos dadas...

Não te quero que sejas perfeita,
Não te espero uma santa no altar
Espero uma mulher fiel, exemplar...

Uma mulher que seja realmente
A parte feminina que me completa!...

O trigo ao pão


Pena que o amor verdadeiro é rejeitado...
Em seus olhos o amor borbulhou
Quis saltar-se para mim...
Mas, tu não acreditaste no meu sorriso
Renegastes o pão preferindo ao trigo...

Pena que o amor verdadeiro é eclipsado...

Em meus olhos o amor encantou
Quis saltar-se para ti...
Mas, tu não aceitaste o meu braço
Preferindo a outro que ao meu compasso...

O trigo ao pão


Pena que o amor verdadeiro é rejeitado...
Em seus olhos o amor borbulhou
Quis saltar-se para mim...
Mas, tu não acreditaste no meu sorriso
Renegastes o pão preferindo ao trigo...

Pena que o amor verdadeiro é eclipsado...

Em meus olhos o amor encantou
Quis saltar-se para ti...
Mas, tu não aceitaste o meu braço
Preferindo a outro que ao meu compasso...

Tudo bem


Você não veio comigo... – não pode – tudo bem,
Vou eu sozinho, e encontro forças na lembrança de ti...
Pois tu foste a mais forte muralha contra os desígnios da vida.
Foste a mais linda rosa nas cinzas do pós-guerra...
Tu vences, eu... vou vivendo...
E acredito que isso também é vencer!

Recordações


...e quando tocava teus ombros,
era ali a única maneira que encontrava de expressar
meu amor sempre a crescer...



Recordações me trazem a ausência de ti...
Ando distraído..., só, pelos cantos, pensando...
Mendigando perfumes nalgum objeto
Por onde tenhas corrido teus longos dedos... – tão belos –

Teus olhares... Teus sorrisos... Teu calor...
Tudo submete meu ser a ti... E corro
Pra distante corro... Qual fugido condor
Foge às mais altas montanhas ao exílio...

Mas..., miragens me trazem ao abismo
Vejo teu rosto calmo, num sorriso lindo!
Em cada espelho que me olho rindo...
Suspiros violentos me sangram o peito.

E eu, com meu olhar distante, distraído
Contemplo tua sombra esvaindo
Por entre as folhagens tangidas pelo vento...

Tardes de outono


Olhos parados no último outono...
Eu era menos triste... Um pouco feliz
Em minha face transluzia uma luz amarelada...
Era fim de tarde... e  eu sabia.

E aquele outono, aquele fim de tarde
Trazia-me o céu azul... e estrelado
Eu contava estrelas com o pensamento... e sozinho
E sozinho eu ria como um louco em transe
Tresloucado eu ria...

Ai, saudades do impossível de haver...
Dos vagos instantes... das utopias
Sei que não devia, mas tenho saudades
Das tardes de outono... da melancolia.

A verdade das flores


Não mais falei das flores com o olhar de primavera...
Quase sempre esquecido de mim tenho olhado o céu
Das noites de outono sem aquele encanto de olhá-las
Meio que espantado de tantas estrelas...

Mas tenho vivido... Acreditando nos sorrisos...
Se os são falsificados prefiro morrer no engano
Jamais quero a certeza dos desenganos...

Eu que tenho buscado a verdade das coisas
Buscado a verdade incansavelmente
Seria ridículo morrer no engano – mesmo que preferisse –

Oh, é primavera!... As flores riem, e não são irônicas...
Há uma verdade em cada pétala
Uma verdade nua... E chega a perfumar...

Quero a verdade das flores nas faces humanas!
Me perder numa noite – de outono – em meio as estrelas...
Espantado de tanta beleza!...

Flor da temperança


Melhor contemplar a serenidade em nossa face...
Deixar o tempo dizer por nós!
Sem forçar o coração ao desejo do primeiro toque,
Do primeiro beijo...

O tempo é quem dita os dias e as horas
Com seus minutos e segundos intermináveis!...

Deixa que vá por águas plácidas nosso barquinho de sonhos e desejos...
Pra quê ter pressa se o que tiver de ser o será?!...
Há um fator circunstancial entre nós dois: a Vida!

Algo novo nasce sem malicia como a flor da brisa...
Algo sem selvageria – inocentemente...
E bem mais humano que animal!...
E é este algo que resiste a dias tempestuosos...

Afinal, o que fica depois de tudo é o amor!...
E o amor é além de tudo... É Ele o Tudo!
O fruto essencial da flor da temperança!...

Ela


Nalgum canto ela passa
e eu canto a canção dos olhos... – no meu canto
Eu tonto de paixão por ela
me atiro num poema à janela
de qualquer avião que passa...
Talvez lá esteja
fazendo pirraça...

Nalgum canto ela dança
e eu assovio
um assovio ora feliz, ora triste... – e ela chora
Ela chora tão lindinho
que parece uma menininha
chorando a boneca que perdera o braço.

Sei que ela não é tão menininha assim,
mas ela é jovem
e é a jovem mais perfeitinha e linda de minha juventude.

Nalgum canto ela vive sem mim
e eu – no meu canto – tento viver sem ela.

Acredito em teus olhos


Acredito em teus olhos mesmo que a distância tenha
a ousadia de nos querer a quilômetros...

Acredito porque uma vez olhando-te me vi dentro dos olhos teus... – dali ao coração, só alguns centésimos. (me apaixonei)

Acredito também porque não existe sujeito, poeta ou não poeta que não se apaixone em olhar-te...

Todos que te olham ficam assim iguais a mim:
bobos de repente...  Perigo um desses sujeitos parados no meio de uma avenida movimentada...

Acredito em teus olhos não só porque são lindos,
Mas também porque são lindos mesmos!
Neles têm aquilo que os outros não têm.
Não me pergunte o quê, seria eu suspeito em dizer...

Acredito em teus olhos por ser duas estrelinhas que vivem a piscar aos meus...
Isso quando te vejo ou te imagino igualzinha naquela fotografia:
As mãos ao rosto e os olhos para bem distantes...
Num pensamento que desejo ser eu.

Acredito em teus olhos e irei acreditar sempre a cada novo olhar que deixares na direção de mim...
E eu – pobre poeta – com o coração nas mãos.

Prometo-te


Prometo-te amor eterno se você for minha
Amor tão grande que nem sei como cabe em mim...
Prometo-te sexo todos os dias
Sexo com carinho, só assim é bom – poesia!
Prometo-te todo finzinho de tarde passear contigo de mãos dadas...
Se não houver praia, serve a praça (afinal, a praça é dos namorados).
Prometo-te muito riso,
Se for preciso, me visto de palhaço, pinto o rosto e ainda
dou cambalhotas no calçadão...
Prometo-te um feriado toda semana
Sem contar os sábados e domingos que já são sagrados.
E neste dia fazer-te mil poesias!...
Prometo-te fechar as cortinas quando
A noite for pequena pra tanto amor...
Prometo-te, enfim,
Todos os dias o pão na mesa (quentinho)
e o poema feito por mim.

Em vultos e miragens


Pelos cantos vou... E vou
Mendigando um sorriso teu...
E encontro nada mais que
Vultos, miragens de você...

Pela vida chorando
Como todo humano ser...
Trazendo um riso triste
Em vultos, miragens de você...

Nem sei quem sou na verdade
Se o poeta ou se o moço ator
Trazendo no lábio amargor
Em vultos, miragens de você...

Esboço teu corpo no pensar
E sinto teu cheiro, teu calor...
Tua voz tremula a querer
Um novo poema de amor...

Mas, em face ao ideal é apenas sonho
Vultos, miragens de você...

Sei; teu olhar agora olha
Outra face olhar-te com outros olhos
E eu (pobre ser)
Em vultos e miragens de você...

Alma Poeta (a poetisa Carol Porne)


Quando uma alma sobressai
Por entre milhares e bilhões de almas
E esta vem a caminho de outra
Torna-se ela alma queria.

Então a poesia despetala versos
Perfumados, amorosos...
Então um riso faz-se colorido
Da face desta...

Que é também poeta.

O sol da vida simples


O tempo sempre a correr por entre meus dedos curtos...
Não sei se devo ter pressa, mas sinto pressa
Tenho de buscar lá fora meus desejos doces
Mesmo que a amargura das circunstâncias me deprima...

Não sei se me comporto egoisticamente vil, mas...
Quero apenas enxergar o sol da vida simples e plena
Sob as abas do chapéu de minha curta existência
Não além dos passos que ainda ensaio a dança...

Enxertar minha alma numa outra alma... Bela!
Viver assim: um poema alegre!...
Sem o ódio que paralisa e gela;
Sem o medo que aprisiona e fere...

Ah!... Eu quero viver... Quero amar!
Simplesmente amar... E mais nada.
Seguir por entre as pedras da estrada
E vencer... Vencer a fúria do bravo mar...

Sei, a caminho do meu saara, qual percorro
Uma alma graciosa espera minha alma
Qual traz nos olhos a melodia suave
Que só os anjos e arcanjos possuem a flauta...
– esta flauta mágica!

Dois bobos


Quando sorriamos juntos éramos dois bobos...
Eu e Ela: dois bobos!
E era assim que éramos felizes
E era assim que amávamos e odiávamos
as mesmas coisas bobas da vida.
Éramos dois gatos no telhado se rasgando por inteiro...
Ela, a gatinha dos olhos castanhos,
lindos até de mais para uma gatinha que me amava e suportava todas as minhas tolices...
Eu, o gato mais bobo dos gatos. O mais apaixonado!...
Orgulhoso por amar a gatinha mais gata daqueles telhados...
Éramos sim felizes, bobos de amor.

Substancialmente


Penso em ti desvairadamente... – a todo instante.
Tu és substancialmente o ar que respiro... O delírio
Que me toma a lucidez... Faz-me louco!
A desenhar teu rosto nos de outras moças...

Outras moças que não me causam nada que
Um olhar comum na multidão frenética...
Moças indesejadas, perto das quais
Sou um místico à contemplar o poente...

Tu és substancialmente a água da fonte...
Não me sacio de ti, te quero sempre!
Tu és o desejo que me possui a alma
O “querer mais que bem querer...”

Longe de ti sou qualquer coisa que
Um grande vazio, um vácuo no universo.

Meus versos sem ti são versos... – apenas
Contigo, suspiros de amor!... – poemas.

Substancialmente tu és o que preciso.

Um melhor poeta


Sei que não tenho sido um melhor poeta...
Juro que tenho me esforçado – e muito.
Talvez, meus poemas tenham sido pobres de você.

Acho que seria pior se eu morresse amanhã...
E ainda pior se eu morresse antes das seis
Sem acompanhar contigo o nascer do sol
Sem dizer em teus olhos o quanto te amo!

Talvez fosse melhor se eu morresse caducando
Depois de viver na tua vida inteirinha
Mesmo que ainda jamais te seja
Um melhor poeta.

Busco-te


Busco-te numa estrela perdida por trás da lua...

Busco-te qual um vagabundo à noite na rua...

Busco-te num cálice de vinho que trago degolado às mãos...

Busco-te no olho avermelhado de uma prostituta qualquer...

Busco-te no chão que piso sem saber se jaz nalguma cova ali perto, nalguma estrela enterrada na areia de algum planeta...

Busco-te incansável!...

E assim, buscando-te, continuo...
Porque tu que me ensinastes o que é esperança.

O anjo da noite (a Scarlet)


O som do violão negro no pensamento eu ouço
E vejo a menina passar com passos, calma...
Ela vai soletrando versos à rua escura
Atenta aos acordes do instrumento com alma...

Vai como astros à noite saltam
No ritmo da canção compassadamente...
Em lindos arabescos clareia o céu
Como em prata no lençol da noite...

E a menina sorri demorada, em festa
Sentindo no peito o gênio poema
Pulsando e vibrando ao coração poeta
Na mansidão noturna de uma noite sem lua...

E assim pela rua serena continua
A soletrar seus versos à poesia
Ao negro violão que trazes aos braços
O anjo da noite que à menina preludia...

Único verso de amor


Que me prende a olhar-te
Desta maneira serena
Fazer-me ridículo
Um bobo poeta
Contar-te sentimentos
Na prosa de um poema?

Desejo-te menina
Desejo e não nego
Tocar tua pele
Com os lábios meus
Virgens dos teus...

Quando na tua ausência
Meu coração chora
Em vão minha mão recata
Tua miragem lá fora...

Por tantas noites... – tantas
Fiz companhia à lua
Adormecendo em lençóis frios
Em lembranças e saudades tua...

Não mais devo te amar
Da maneira que amo.
Não serás minha
Nem serei de ti
Pois, talvez medo de sofrer...

De tudo, te peço uma coisa:
Deixa-me viver contigo
Nem que for apenas num poema
Único verso de amor.

Quando eu for


“A tragédia me faz rir, a comédia me faz chorar,
E o drama? Nem rir, nem chorar...”
(pensamento de Carnioli)



Quando eu for, estarás comigo
E eu contigo – no pensamento.
Sempre a morena perfumada, de riso lindo, olhar doce.
Eu, comediante, dramaturgo, trágico...
O palhaço que te fez rir
O homem que te fez pensar
E o poeta – ao partir – te faz chorar...

Sereia morena (a Luana Santos)


Com uma flor nos cabelos ela sorrir...
– não me pergunte para quem.

Com uma flor nos cabelos ela é linda!
– sem a flor também.

Com uma flor nos cabelos ela olha o infinito...
– e tão bonitinho.

Com uma flor nos cabelos ela me diz algo...
– algo que eu não sei dizer.

Com uma flor nos cabelos ela parece uma sereia...
– por que uma sereia?...

É verdade... Todas as sereias que me disseram existir
eram loiras,
Mas nunca uma delas eu pode ver...

A única sereia realmente que eu conheço
Tem olhos e cabelos negros... – e é morena!

Ah!... E guarda nos cabelos uma flor.

Mais forte em perder


Sem magoas vou pela vida
Assoprando as folhas no meu caminho...
– folhas secas do último outono.

Se eu perco algo aqui, ganho ali...
Não sou um perdedor vicioso – sou mero aprendiz.

Em perder sou mais forte... Pois,
Perder nada mais é que viver! – e viver é a grande síntese.

Nem tudo se ganha na vida,
Perde-se também.

Desde criança perdi muito e ganhei tanto
Chorei tantas lágrimas e ri muitos risos...
– no entanto: triste e feliz.

Pensei perder a vontade de viver quando
Perdia o riso do palhaço no meu próprio espelho...

Mas sempre há uma fonte onde se lava o rosto...
Há sempre um circo novo em que se encontra a alegria!

Infinito que nos cabe


Abraça-me devagar, deixa teu ser prender-se a mim,
Teus longos cabelos nos afagos meus...
Nossas almas se encontrar,
fundir como dois faróis na escuridão...

Não há crime quando dois seres se amam verdadeiramente...
Crime é deixar o amor passar sem acontecer...

Que queres na verdade: as migalhas da vida breve
Ou pão da vida longa?
Que preferes?...

Sei; não te posso levar comigo para além do desconhecido...
Que um porto nos separa nossas almas nalgum fim...
Mas enquanto não, me leva contigo ao infinito que nos cabe...

E assim, juntos, faremos do aquém, nossa casa breve
Com flores coloridas na janela.

Amar-te de amor


Que mais um poeta pode compor a sua Musa
Senão um beijo de amor num papel abstrato
Onde esboça seu corpo tão bem comportado...

Onde quero morrer meus lábios senão na tua pele
Desvendando os mistérios de tuas curvas
Em beijos de amor à eternidade...

Sei que a vida é breve... – e como é breve!
Mas pode ser infinita nas brevidades
Nos instantes de amor em braços amados...

Quero amar-te Musa sonhada!...
Amar-te não só de desejos,
Mas amar-te de amor! (e não existe mais belo pleonasmo)

Porque sei amar


Hoje sem sol, tedioso...
Amanhã – quem sabe – um girassol resolve
olhar à minha janela...
Daí eu perceba que a vida é tão bela!
E não melancolia,
Mas poesia dinâmica...

Meus amores idos se foram porque tinham de ir...
Tinham compromissos, paixões outras.
Eu, sem amor, sem ódio, sobrevivo
Porque sei amar a quem nunca me soube...

Tempo de partir


É tempo de partir! Meu olhar todo despedida...
Passo vago pelas coisas acariciando-as
Trazendo-as bem mais perto do peito
A embalar ao coração humano...

Adeus amigos! – diz meu olhar adivinho.
Adeus mulheres que amei! Última paixão,
Alma virgem dos meus beijos,
Dona dos meus suspiros de amor enlouquecidos...

Adeus passos curtos que vão ficando pelas ruas...
Folhas do outono que me brindastes um ruído...
É tempo... Tempo de partir!...
Quem sabe haverá regresso – quem sabe um dia.

Adeus mãos que me acenam lenços brancos...
Lágrimas que por mim caem num triste pranto...
É tempo! E é inevitável...
O barco espera de velas hasteadas,
As vagas varrem para além da praia...

Adeus perfumes... Flores de cores tantas... Adeus!
É tempo... Tempo de partir...
Almejo o horizonte
Só vejo caminhos a percorrer...
– novas liberdades em braços outros.

Tempo de juntar as coisas: os livros lidos e os por serem lidos...
Os poemas já escritos e os nãos escritos... Adeus!

Temo por ti


Compreendo teus olhos, nunca serão
As pérolas encantadas que tanto busco.
Serão apenas pedras comuns... – nada mais.

Temo por ti, ser tarde... – e muito tarde.
Se por ventura descobrires que são meus olhos
Teu amparo, teu exílio, último cais...

Enquanto não, estou por aí ainda o mesmo,
Aquele peregrino moço suspirando versos
Falando a sós, interrogando a si mesmo, caducando...

O borbulhar de outros diamantes vejo...
Novos versos suspiram meu peito,
Minha alma ressurgir ao versejo...

Mais uma vez, temo por ti...
Sei ser forte na frustração diária – acredito ser.
Não te quero uma lágrima tecer no rosto...

Queria que fosses a alma a se enlaçar a minha
Se não, como lhes disse: deixo-te por amor
E sigo a rua deserta... – sem ti.

Nada sei de mar


O poeta pobre sem teto e sem carro
O tempo largo, o poeta jovem.

Camarada, estamos no mesmo impasse!

Só amei mulheres que me amastes,
Mais amastes o Ter que o Ser... – e eu tenho nada.
Dei meu braço, renegaste
Quisera viver de alegrias... – e eu tinha apenas poesias.

Camarada, estamos no mesmo barco!

Minha amada não tem lar,
Tem um sorriso que acredita em mim...
Ama o que Sou – e eu sou muito.

Confio em ti, camarada de sandálias,
Eu que nada sei de mar.

Última inocência


Quero retornar-me à janela da última inocência
Recontar estrelas de olhar pasmado
Rindo como bobo daquela despencada

Quero renascer
Rebrincar
Reapaixonar pela vida!

Reescrever na face do tempo minha própria história.

Aprendiz de poeta


As lágrimas se foram todas
Ficaram recordações de uma tarde fria.
Agora sou outro
Mais sábio que ontem.

Envelheço, mas o mesmo moço
E a cada passo que vou pela rua
Escrevo uma letra na minha existência.

Eu, aprendiz de poeta
Que jamais fui senão humano ser
Em desertos solitários dentro de mim.

Lágrimas que me rolaste na face
Levando minha dor
Soluços de amor.

Ontem quase morto
Hoje outro moço
Renovo.

O poeta renasce


Quando todos os versos parecem emudecer
Eis que ressurgem à luz do amanhecer
Um poema novo de uma beleza universal.

Eis que o poeta dado por morto renasce
Com mais vigor ainda, a alma mais plácida.
Porque ele, mesmo não sabendo o que é amar, ama...

– Quem sabe amar, sabe perdoar.

Nas lágrimas é que encontramos perdão as nossas faltas.
Pequenos ou grandes erros se não reconhecidos,
nos levam a abismos...
Se não perdoarmos a nós mesmos, a ninguém vale pedir perdão.

– Quem não sabe chorar não sabe perdoar.

Lágrimas não nos diminuem em nada, ao contrário,
Traz-nos redenção a alma e nos fazem mais humanos.

– Lágrimas de poema, não lágrimas de cinema.